Deserto


A vida marca a alma
como o sol inclemente
rachando a terra seca,
mas basta água
para a vida florescer
desfazendo a aridez.
Assim é com o coração
que marcado pela dor
não perde a sede de sonhar,
cicatrizar suas feridas,
desfazer o caos,
colando os retalhos do viver.
Deixa que a chuva molhe a terra,
como o orvalho beija a flor
sem negar refrigério ao espinho;


dor que passa, é lição que fica,
dor que fica é tortura que não vai;
tortura é dor que se abraça,
lição é dor que se dá asas
e manda voar.
O que passou passou,
não se pode engaiolar o tempo
senão o tempo engaiola a gente:
nas marcas áridas das desditas,
no caótico exílio da emoção,
na armadura
que nos faz cativos de nossos medos,
na fuga ao nada,
na deserção do sentir,
no abortar o sonhar,
no calar a poesia,
no vestir a mortalha do passado,
despir as possibilidades do futuro,
cristalizando pesadelos,
desertificando o peito.

Postado aqui em 16 de setembro de 2010.


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