A seca seca a terra,
seca a gente,
seca a vida.
Seca a morte que tem sede de viver
para matar a sorte de quem subvive
Nefastos coronéis sugam suor e sangue
dessa gente que nem sabe assinar o nome,
dessa gente que morre de fome
para alimentar a gula do poder.
O nordeste? ...
O nordeste é um latifúndio
onde latem fundo as desigualdades,
onde a miséria dita as ordens
e o analfabetismo é seu feitor,
na democracia do chicote
o cabresto "marca o X" do eleitor
para escolher seu carrasco e sua dor,
esse feudo fede a morte:
é o corpo faminto
que cai indigente
em meio a lavoura que o tempo secou,
é o vômito arrogante
do coronel prepotente
que se auto deificou.
É o descaso
que leva ao ocaso
um povo escravo da dor
é a dor que alimenta a morte
que mata a vida, assassinando a sorte.
Faz de esperança o seu farnel.
Pega seu pau de arara,
vai pedir a "Padin Ciço"
que traga à terra um pouco de céu.
Canta e reza,
para espantar seus males,
quebrar maus olhares,
pedir água a Deus.
Lembra o Mestre Vitalino
que com a beleza de um menino
fez no barro o caxixi.
E o capitão Virgulino
que do cangaço foi ladino
foi um mito,
foi um rei.
De canudos ecoou um grito!
Era o profeta conselheiro
dizendo ao povo brasileiro:
"o sertão vai virar mar",
quando a seca deixar de ser
um objeto no mercado da política,
quando a miséria não mais alimentar o poder,
quando o desmando enfartar o peito do coronelismo,
quando o analfabetismo calar e o povo disser não,
quando o chicote quebrar,
quando o cabresto partir...
"o sertão vai virar mar".