Um estampido. Um sobressalto. Passos apressados distanciam-se fugitivos. Um burburinho se avoluma. Uma multidão se acerca entre conjecturas piedosas e elucubrações levianas, curiosidade fútil e câmeras macabras, risos, lamentos...
Um corpo esvai-se. O sangue desenha no asfalto a tragédia de uma vida, estupidamente furtada. Latrocínio. Morte para levar cinco reais e um celular. Celular tão fácil de vender, nada difícil habilitar. Vende-se a qualquer um por qualquer preço, qualquer receptador compra em qualquer esquina, um chip de qualquer operadora e o ativa sem qualquer dificuldade.
Morreu um pobre pai de família, um homem de bem, um mal assalariado que "tirou" no cartão do primo em doze vezes (ditas sem juros), o telefone que lhe custaria a vida. Mas que importa? Foi "apenas" mais um. Mais um dígito na estatística, um número na farsa da segurança pública. Virou atração de programa sensacionalista. Desses que embrulham o estômago na hora do almoço, esses que misturam desgraça com musiqueta rasteira e alcunham isso de jornalismo. O mórbido vale-tudo para saciar o cio da audiência desinteligente.
O ladrão? Anda por aí à espreita, livre para matar, não "apenas" mais um.
Deus que nos proteja. A autoridade (in)competente anda de helicóptero e carro blindado.
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