Engarrafamentos e a antropologia do velho buzú lotado

...no velho buzú lotado, os engarrafamentos superlativam os sofrimentos de quem parece ter “jogado pedra na cruz” (de estilingue). Comprimida na lataria, uma mossoroca indefinida, mistura peitos, bundas, braços, pernas, mochilas, sacolas... Um aperto daqui, um pisa dali, empurra acolá, apalpa alhures, esfrega...



Nas grandes cidades, tem sobrado automóveis e faltado rua, o que gera constantes e estressantes engarrafamentos, que de tantos que são, mais parece um engradado inteiro. Não adianta esbravejar, xingar as “otoridades” incompetentes... Sai-se cada vez mais cedo e retorna-se cada vez mais tarde. E os Governantes? “relaxando e gozando” (com a cara dos eleitores. É claro!).


Mas, é no velho buzú lotado, que os engarrafamentos superlativam os sofrimentos de quem parece ter “jogado pedra na cruz” (de estilingue). Comprimida na lataria, uma mossoroca indefinida, mistura peitos, bundas, braços, pernas, mochilas, sacolas... Um aperto daqui, um pisa dali, empurra acolá, apalpa alhures, esfrega... Durante 1, 2 ou mais horas por dia: Heteros, bibas, trabalhadores, vagabundos, Mauricinhos, Patricinhas, “putões”, “cachorras”, Periguetes, beatas, professores, estudantes, desocupados, biscateiros... Todo tipo de gente e gente de todo tipo, compartilhando a infelicidade do transporte público. E os políticos? “relaxando e gozando” (com a cara dos eleitores. É claro!).


O sujeito ainda tem que rezar para o coletivo não ser assaltado nem achar uma “bala perdida”; para que um fanático não entre de Bíblia em punho, disparando versículos para tudo que é lado, nem qualquer outro maluco, ou um deseducado “DJ de buzú”, com sua caixinha ching-ling, ofendendo os ouvidos alheios com o seu desgosto sonoro. Tem que cruzar os dedos, para não pintar um bebum aloprado fazendo arruaça nem uma emergente perua genérica, berrando para todos saberem que ela tem celular. Se tudo der certo, depois de suportar bravamente: Desodorante vencido, “freios de arrumação”, prova de esforço, salto com barreiras, vendedores de incenso, canetas, adesivos, balas de gengibre, outros doces... O cidadão poderá desembarcar. Se o motorista parar no ponto, se não “arrastar o carro” e o jogar no chão, se... E os filhos da politicagem? “relaxando e gozando” (com a cara dos eleitores. É claro!).


Para terminar, nada mais apropriado, do que citar Castro Alves em seu: “Navio negreiro”:


“Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade

Tanto horror perante os céus?!”


8 Comentários

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  1. Pois então, Antonio... li seu "irônico e realístico" texto e concluo: - vamos de mal a pior, pois agora empossada está a "dona" desse refrão: - relaxa e goza - detalhe: na Cultura!!
    O que fazer? Relaxar e gozar? Com o país assim?
    [ ] Célia.

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    1. O que podemos fazer, é cada um de nós, buscar votar com consciência. Começar agora dia sete de outubro, a fazer uma faxina, um “exorcismo” municipal e em 2014 seguir com a desratização estadual e federal. Só assim, algum dia o cidadão será respeitado e tratado como gente e não como gado. Enquanto isso, vamos amargando o despudor, a incompetência e a leviandade, dominarem o balcão de negociatas da politicagem nacional, “relaxando e gozando com a nossa cara”.

      Um abração.

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  2. Antonio, bem assim e há quem nem acredite, imagine só?
    Isso não muda, São Paulo está de um jeito que não tem jeito!!!
    Acredito até que em grande parte desse País está assim!!!
    Abraços meu amigo poeta!

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    1. E em Salvador que nem se consegue construir um metrô? A Cidade está o ó do borogodó. Um desastre municipal e estadual. Votamos mal e purgamos no dia a dia, o “pecado” digitado na urna.

      Um abração.

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  3. Antonio, ótimo texto sobre a nossa cruel realidade. Confesso que faz tempo que não pego um buzú... agora pego engarrafamentos quilométricos!!!!
    E o pior de tudo isso pra mim são os assaltos, que na minha época, eram raros, e hj tão comuns.
    Deus proteja o povo, pq os governantes estão relaxando e gozando nos helicópteros deles.

    Um abraço.

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    1. Estamos vivendo na Terra de todos os nós. N´´o na educação, saúde, segurança... E o “cabeça branca” falsificado, ainda espera que o povo de Salvador, troque um Janjão por outro ... Deve ser para os dois poderem passear de helicóptero (pago com o dinheiro dos impostos), “relaxando e gozando”, acima dos engarrafamentos, buzús e assaltos.

      Um abração.

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