Na fila da vida,
uma gente indigente,
errante penitente;
ruminando azar e sorte,
aguardando a morte chegar.
Numa “Biafra nordestina”,
ressequidos destinos vão carpindo sua sina;
numa desgraçada cracolândia,
no Haiti de cada gueto...
Aonde a ficção oficial não vai além da propaganda.
No planalto central:
Um faz de conta,
um disse que disse que nada diz.
Apócrifa devoção,
dos que só rendem graças a “Nossa Senhora da eleição”.
Onde só a desassistência assiste:
Já não sorri a criança,
não se engana a maturidade.
Quem provou indigesta desilusão;
já não compra a fé posta a preço,
nem aposta no mercar a salvação.
Anônimos figurantes,
mal representados coadjuvantes;
desejam a si próprios representantes.
Nesse drama dessa lida,
nessa fila dessa vida,
triste procissão,
amargo féretro da ilusão.
Despida a falsidade,
desnudada a dissimulação;...
não haverá bolsa que compre a realidade,
que impeça essa fila de andar,
resgatar a amarfanhada esperança,
reacender de um povo o sonhar.
Dê uma espiadinha em nossas postagens mais recentes:
Querido amigo, Poeta!
ResponderExcluirEsse "disse que disse, que nada diz" anda a nos cansar, faz tempo!
Quem dera chegar o tempo de se fazer algo!
Quem dera eu estar por aí a ver esse tempo chegar!
Quem dera!
Tenha um lindo fim de semana!
Beijos!
Como canta Caetano em "podres poderes":
Excluir"Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais..."
Um abração.
As desassistências são tantas, Antonio; os desafetos triplicam; as amarguras calam tão fundo que nossa gente humilde (conforme a canção escolhida) vive sufocada mesmo... Que vai em frente... Sem nem ter com quem contar...
ResponderExcluirExcelente e propícia abordagem a sua!
Abraço,
Célia.
Os Paralamas do Sucesso bem retratam isso em "Alagados". Uma realidade que se aplica a todo Brasil:
Excluir"Todo dia o sol da manhã
Vem e lhes desafia
Traz do sonho pro mundo
Quem já não o queria
Palafitas, trapiches, farrapos
Filhos da mesma agonia
E a cidade que tem braços abertos
Num cartão postal
Com os punhos fechados na vida real
Lhe nega oportunidades
Mostra a face dura do mal
Alagados, Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em quê"...
Obrigado, Célia. Um abração.
Meu amigo poeta, é preciso mesmo que se sinta que o quadro não muda, que em épocas contemporâneas ainda veremos tantos e tantos descalabros nesse país, é preciso crer que "a fila há de andar", pois a esperança não morre, é ela que nos move, sempre, foi a única coisa que restou "na caixa de pandora"!
ResponderExcluirAbraços e tenhas um lindo fim de semana!
A desigualdade é antiga e os políticos a vão empurrando com a barriga. Para os que não se fazem deliberadamente indiferentes a tudo isso, a tocante "Gente humilde". Letra composta em 1969, por Vinícius de Moraes e Chico Buarque de Holanda, música do grande violonista Garoto (Aníbal Augusto Sardinha). Um belo choro de 1952.
Excluir"Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a como
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar".
Obrigado, Ivone. Um abração.
Nada mais triste do que observar os mendigos na rua; os mais velhos com o chapéu na mão e, os mais jovens de garrafas e latas cheias de desesperança. Um abraço, Yayá.
ResponderExcluir"garrafas e latas cheias de desesperança". Você sintetizou tudo nessa metáfora. Enquanto isso. Os "donos do poder" se fartam com o que falta a essa gente.
ExcluirObrigado. Um abração.
Oi, Antônio!
ResponderExcluirTexto poético, como sempre inteligente e de um realismo que até dói.
Isso se passa por todo o mundo, mas se Deus quiser, as coisas mudarão, porque Deus é JUSTO.
E o que ELE prometeu, se irá cumprir.
Um abração da Luz.
Enquanto a providência divina não resgata a cidadania de nossa gente, as filas desandam...
ExcluirObrigado, Luz. Um abração.