Ainda ontem eu nascia, dava os primeiros passos e só queria tomar mingau de farinha láctea, andava num velocípede vermelho com a cara do Mickey na frente e fazia o maior escândalo, quando chamavam dona Nequinha para me aplicar injeção. Meu primeiro carrinho de polícia, coitado. Estreou descendo as escadas do prédio...
Ainda ontem eu aos seis anos, não entendia tanta alegria por um “tal de tri” numa tal Copa, estudava na Escolinha São Jerônimo. Adorava pegar o trem pra Paripe para passar o fim de semana na casa de minha tia. Eu achava o máximo sair com meu pai; comer misto quente num bar ali na Rua da Ajuda ou no “Cacique” (ao lado do Cine Guarany), nesse tempo, eu pensava que os carros sob o viaduto da Sé, eram miniaturas de brinquedo e sonhava em ser cientista, astronauta, piloto... Não tinha telefone, a TV era em preto e branco e só eram duas emissoras, eu não perdia: “Robô gigante”, “Túnel do tempo”, “Jornada nas estrelas”, “Perdidos no espaço”... Quando a televisão “coloriu”, assisti o primeiro “Fantástico”. Foi numa Telefunken Palcolor. Ainda ontem... Minha primeira bicicleta, quase não resiste ao meu aprendizado. Precisou logo ser trocada. Criamos galinhas no pátio, tivemos cachorros: Duque, Radi, Bareta, Black.
Ainda ontem, perdia meu pai. Eu era o filho mais velho, tinha quinze anos; o caçula, seis meses e entre nós, eram mais seis irmãos. Graças à força de nossa mãe. Seguimos em frente... Larguei o catecismo, passei pelo protestantismo e me encontrei no espiritismo. Da 5ª ao 3º ano, estudei na mesma escola que depois vim a ser estagiário, professor e diretor. Ali aprimorei meu gosto pelas artes e fui convencido de que dança não era coisa de “viado”. Descobri a poesia, ensaiei música, experienciei o teatro, fui cursar desenho na Escola de Belas Artes...
Ainda ontem, Meu primeiro computador (na época) top de linha; era um 486 dx4 de 100mhz com hd de 540mb... Casei, descasei, recasei. Minha filha nasceu, entrou para a universidade. Escrevi livros, publiquei meu site/blog; sorri e chorei, sofri e vibrei, errei e acertei. Vou seguindo em frente, se não como quero. Sigo como posso, preciso e mereço. Com fé em Deus e na vida, que apesar de tudo, só me dá motivos para agradecer.
Agora, chega o calendário enlouquecido, me dizendo que se passaram 50 anos! O tempo bebeu? Ficou maluco? Não basta essa falseta de ter nascido no século passado?! Só se passaram uns 25, no máximo 30. Exijo recontagem! Tenho espírito de 20 com aura de 15! Ainda ontem era 29 de abril de 1964! Ainda ontem! ...
Ah! Que delícia conhecer um pouco mais sobre sua pessoa, Antonio! Que bom que "ainda hoje" você nos mostra o lado bom da vida! mesmo que venha recheado de coisas não muito boas. Mas, sempre vale e muito viver com essa dignidade que você desenha em seus textos! Bodas de Ouro de Vida! Isso é lindo! Parabéns!
ResponderExcluirAbração da Célia.
Obrigado. Viver é aprender a trilhar o caminho da evolução. Tirar de tudo uma lição para o nosso melhor.
ExcluirUm abração.
Meu bom amigoAntonio, que lindo texto reflexivo, "Ainda Ontem", nossa, é de se assustar né mesmo?
ResponderExcluirTambém me vejo brigando com o tempo, o acho maluco também, pois assim como você não acredito que tenho a idade que tenho, me sinto tão jovem, mesmo não sendo que sei!
Meus netos crescendo, o primogênito está já na Faculdade, meus sessenta e cinco, completados em março, me dão a liberdade de dizer que viver é mesmo uma proeza maravilhosa!
Sei como se sente, assim com espírito de 20 e aura de 15, as pessoas não entendem isso, mas nós sabemos né amigo, como é lindo isso!
Meus parabéns pelos seu inacreditáveis cinquenta, com essa aura que tens passará dos cem!
Fico imensamente feliz de poder te conhecer, mesmo de forma virtual, mas que para mim não o é, sinto a sua imensa luz, ela transpõe tempo e espaço, fique com o meu apertado abraço, Feliz Aniversário!
Obrigado. A alma é atemporal. Viver é renovar-se todo dia.
ExcluirUm abração.