Naquele amanhecer, a procura de inspiração, um pintor pegou seu material e foi para a praia. Um arco naturalmente formado pela folhagem de duas árvores que se entrelaçavam, emoldurava aquele magnífico arrebol. Em seu ninho, um coro de pássaros saudava o dia nascente, ofertando ao artista sublime temática a pintar.
Um poeta que contemplava a cena, versejou:
Na tela colorida,
imita o artista a vida.
Gorjeiam os pássaros;
Saúdam a manhã raiada.
Acorda o dia,
E daquela tela muda,
gritou a poesia que me inunda;
transbordante inspiração.
A um seu amigo músico que chegara, o poeta mostrou os versos. Sacando a flauta da algibeira, o moço pôs na letra melodia e fez canção. Dali seguiu o encantamento de um coreógrafo, a crônica de um escritor, a contemplação de um passante, a paradinha de um apressado... Virtuoso círculo de inspiração.
Na praça logo em frente, a alguns tantos metros; um sacizeiro, resolve assaltar para comprar mais droga. Com uma faca, ele ameaça um transeunte tomando-lhe o celular e o pouco dinheiro que tinha no bolso. Um rapaz que passava, vendo o ocorrido, sacou uma arma da cintura e passou a perseguir o assaltante atirando. Ao tentar atravessar a rua o meliante foi alvejado e caiu, sendo atropelado. O motorista atropelador, com o susto enfartou, uma senhora que passava, recebeu uma bala perdida, um tiro de raspão... Gigantesco engarrafamento tomou conta daquela e das vias adjacentes, repercutindo e estabelecendo um contagioso círculo vicioso.
No dia seguinte, uma foto no jornal, sintetizava num só flagrante: No primeiro plano, uma tragédia tão comum nas metrópoles. Ao fundo tanta inspiração por tantos apercebida.
Postado aqui em 22 de outubro de 2014.
Olá Antonio
ResponderExcluirNada em seu texto belíssimo e inspiradíssimo, me preparou para a parte final, o segundo círculo vicioso, já preparava o comentário enebriado pela arte quando uma rajada de violência o atravessou. Assim são nossos dias, onde o olho e a natureza busca a poesia, mas encontra a violência, perpetuando o círculo vicioso do desalento, da morte em todos os sentidos.
Que os poetas e os artistas não percam a esperança de reescrever a vida, redesenhar os encantos, cantar as belezas. Há que tentar novos círculos até o último instante do olhar.
Grande abraço, poeta do círculo virtuoso!
Enquanto alguns buscam e se permitem o encantamento com as belezas da vida, outros se entorpecem nos desencantos, desatinando em tragédias existenciais. Que a natureza e as artes possam iluminar mais e mais mentes e corações.
ExcluirObrigado pelo comentário. Um abração.
Amigo poeta querido, minha primeira visita atraída com o título, pois a Vida é bela e inspiradora, mas nem todos a veem e a sentem assim com essa linda sensibilidade do artista, mas como para tudo há o virtuoso e o vicioso e como és muito inteligente soubestes aqui nos encantar com a forma de nos mostrar!
ResponderExcluirAmei ler, me encantei!
Abraços meu amigo!
A vida é feita de escolhas. Deus deu ao ser humano o livre arbítrio com seus consequentes ônus e bônus. Somos todos, frutos daquilo que cultivamos.
ExcluirUm abração.
Dois contrapontos impossíveis de se convergirem - o ato sublime da criação, o virtuoso e o ato infame da destruição - o vicioso! Infelizmente deparamos hoje mais com o vicioso que o virtuoso.
ResponderExcluirAbraço.
Numa sociedade na qual o ter é posto acima do ser, desatinos se repetem e tragédias se reeditam cotidianamente. É a face obscura da vida dita moderna.
ExcluirUm abração.
Oi, Apon, como vai?
ResponderExcluirPuxa, eu estava vindo embalado pelo seu conto tão bonito e inspirado, e travei no parágrafo que falava da sequência de desastres. Como é triste essa realidade que infelizmente sempre é mostrada em primeiro plano! Para preservar minha sensibilidade procuro sempre mantâ-la desfocada ao fundo. Um abraço!
Infelizmente, muitos enveredam pelos descaminhos da vida, tecendo teias tênebres em torno de si. Cabe a nós outros, não nos permitirmos contagiar. Apesar de tudo, a vida é bela e viver é a grande dádiva da criação, nossa ferramenta para nossa evolução.
ExcluirTudo bem! Um abração.