Cadê o rio que estava aqui?...


Lama humana,

desumana destruição,

devastadora inconsequência.

A autoridade descuida,

não cuida senão de si.

Financia-se direita e esquerda,

ganhe quem ganhe,

faz-se menor a perda.

A quem importa a ribeira?

A foz?

A cabeceira?

Rio Doce a morrer.

Mar barrento,

Céu cinzento;

só Deus para socorrer.

Natimortos tantos ais.

Num país que agua abunda,

na falta d’água se afunda,

paradoxo desaguar.

O sertão que virou mar,

intenta revirar sertão.

Sobradinho o lago vai secando.

E o “Velho Chico” tadinho!

Isquêmico vai minguando.

Enquanto a transposição do erário,

irriga o corrupto e o perdulário,

faz que faz do faz de conta.

Falta agua pro peixe viver,

falta agua pra gente beber,

farta sede pra sobreviver.

Poluída.

Seca a morrente nascente,

assoreada, desmatada esperança;

manancial indigente.

Fluvial chacina,

ecológica sina...

Jaz o Tietê e o Subaé,

o Mirim Itapicuru, o rio Catu,

Iguaçu, Paraíba do Sul;

Gravataí, Caí.

Jaz o rio dos Sinos,

das Velhas;

Ipojuca e Capibaribe...

Mas não jaz o rio de lama,

em Brasília ou Mariana,

na politicagem nacional.


6 Comentários

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  1. Emocionante, nem vais acreditar, mas digo, chorei!Chorei por tudo isso que estamos vendo, não aguentei ver a lama indo para o mar, os peixes mortos, nada vai poder sobreviver disso tudo que está aí!
    Nem sei até quando iremos ver tanto descaso com a vida, com a natureza, negligência assim acho que só aqui, no nosso rico e lindo País que, pelo jeito, não achará jamais governantes dignos, dói em ti, dói em mim!
    Amei ler seu belo poema, deixo abraços apertados!

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    1. Pena que todo choro e toda a dor não encontrem eco nem comovam nem um pouco o sínico descaso de empresários e autoridades, que posam com cara de paisagem ante a desolação provocada por tanta lama concreta e figurada, real e metafórica. Lama de Mariana, lama que transborda dos esgotos pútridos dos "podres poderes". Desumana chacina ambiental.

      Um abração e uma boa semana.

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  2. Olá meu caro,

    é muito triste ver tudo isso acontecer e não termos forças para mudar um país onde a impunidade é a regra.
    Seu poema retrata esta triste realidade. Muito bom vir aqui.

    Grande abraço

    Leila

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    1. Triste mesmo. País do faz de conta. Casa de Noca, de Migué, da Mãe Joana", da Madrasta Dilma, do Padrasto Lula e de quem mais quiser. Terra de ninguém, onde cada um usa e abusa, faz o que quer e melhor lhe convêm.

      Um abração e uma boa semana.

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  3. Oi, Apon! Muito bem escrito seu poema, com uma musicalidade ímpar. Quando mais o tempo passa mais vejo o governo se preocupando com suas próprias falcatruas e menos com a solução de problemas que afetam toda uma população. E assim vão se embora as nascentes... Abraços!

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    1. Nossas "autoridades" estão preocupadas apenas consigo mesmas, em como escapulir das ratoeiras que lhes são tão próprias e merecidas. A lama pútrida da politicagem transborda do submundo corrupto, desmascarando parlapatões bravateiros, falsos "salvadores da pátria" e seu faz de conta, sua farsa populista, inconsequente e irresponsável. O povo, a verdade, o ambiente? ... Que se dane tudo e todos! Eles só querem manter o poder a qualquer custo.

      Um abração e uma boa semana.

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