Esqueça o meteoro. Conserte a represa!


Não é raro, deixarmos de fazer o possível, Antecipando preocupações inúteis e muitas vezes descabidas, que abatem o ânimo e paralisam. Convertendo alertas salvadores em sentenças desastrosas:


Num vale distante, de clima aprazível e solo fértil, isolada de tudo e todos, vivia uma comunidade em harmonia e paz, tirando do fruto da terra o seu sustento. Dos seus fundadores, Amadeu era o último sobrevivente. Muito respeitado e considerado como uma espécie de sábio, profeta… Certa noite, o ancião sonhou que a represa, localizada um pouco acima do vilarejo, começava a sangrar e uma bola de fogo caía do céu, assustando a todos. Em seguida, no decorrer de algum tempo, uma segunda bola flamejante rasgava o espaço atingindo o solo, mas, não restara ninguém para testemunhar o ocorrido. Tal visão causou admiração e foi tida como uma premunição catastrófica, contudo, não se lhe deu maior importância.


Os anos passaram, Amadeu morreu e só alguns poucos lembravam da “profecia” quando a represa, apresentou um pequeno vazamento. Devido a alta concentração de óxido de ferro e a abundância de argila, misturados ao material usado na construção, a água escorria num filete de tom avermelhado que lembrava sangue; o que até então, impressionara, mas, não provocara qualquer sobressalto. Todos seguiam empenhados procurando uma solução para o problema, estudando a melhor maneira de consertar o vazamento. Foi quando um meteorito atingiu o solo num estrondoso impacto, que não produziu danos físicos. Porém…


Psicologicamente abalada, aquela gente se entregara ao mais absoluto desespero. Convictos da morte “iminente e inevitável”, abandonaram o conserto da represa, cujo vazamento foi aumentando até a estrutura romper uma semana depois, matando todos e destruindo tudo no seu caminho. Dois dias passados, outro meteorito, que como o primeiro, não provocaria maiores danos. Esse, ninguém viu...


Interpretando, lendo a vida pela cartilha do desespero e desequilíbrio, materializamos surpresas desagradáveis que gostamos de por na conta do destino, dos “castigos” de Deus, dos azares… Abdicando da realidade do hoje, onde tudo verdadeiramente acontece e faz acontecer, tentamos viver a suposição do amanhã. Como aquelas pessoas, desatinamos ante um diagnóstico médico, uma previsão, um revés qualquer; possibilidades, probabilidades, eventualidades…


A premonição de Amadeu era clara: Surgiu um problema concreto, o vazamento. Sobreviventes do primeiro impacto e crentes de que não assistiriam a um segundo, logicamente, deveriam cuidar do que de fato os pudesse ameaçar entre um acontecimento e outro… Portanto, pare de esperar pelo asteroide. Conserte a represa!



Postado aqui em 22 de fevereiro de 2017.



13 Comentários

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  1. Olá, Tonico!

    E que conto tão bem descrito e com aconselhamento. Estou de acordo contigo, pke melhor é prevenir ou consertar logo do que remediar.

    Abracinho e dias bem felices.

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    1. Fazermos sempre o nosso possível. Esse é o melhor caminho. O resto, é o resto.

      Um abraço.

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  2. Bom, tá todo o mundo sambando por aí e Tonico não é "exceção"(rs). O Brasil para, qdo chega esta festa louca, desgarrada e bem arejada e ainda falam em crise. Se fosse no Hemisfério Norte, eu queria ver, como se vestiria essa mulherada toda. Hoje, Na TV, vi imagens do carnaval do Rio e Virgem Santa, as pessoas k falaram estavam com garrafas grandes nas mãos. Bem, suponho que não continham água, pke o conteúdo era da cor do vinho tinto, mas pelo discurso delas, tb, supus k falavam sob o efeito do álcool. Enfim, eu resolvia a questão, mas...

    Abracinho e boa semana, minino!

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    1. Que nada! Estou aqui cercado de carnaval por todos os lados, ilhado em minha compulsória clausura. Nas garrafas que você viu e nas latinhas que o povo não larga. Tem "água" sim. Mas, água que passarinho não bebe, é "água dura", como se diz por aqui: estão "comendo água". Contudo, porém, todavia, assisti na TV um carnaval bem animado, copiando o carnaval brasileiro ao som de Ivete Sangalo, com travestidos e tudo mais; aí em Torres Vedras.

      A crise, eu acho que só afeta as pessoas sérias. Políticos e alienados estão imunes.

      Já programei para as 12:30 de quarta de cinzas minha postagem do ano novo pós-carnaval, botei esse horário, para dar tempo de o povo acordar da ressaca. A imagem que ilustra o post, é uma ilusão de ótica pintada por Salvador Dalí. Tipo as ilusões carnavalescas.

      Um abraço e uma boa semana.

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  3. Não, Tonico! Clausura? Viraste ou vais virar "monge" (rs)? Ah, já somos dois, então. Viva a paz e o silêncio por aqui.

    Essa água é dura pra biquinho do passarinho, minino, só isso (rs)!

    Carnaval de Torres Vedras. É um dos famosos daqui, mas nunca assisti a esse, nem a nenhum, se diga. Não sabia que a Ivete tinha atuado lá, aliás, aqui o carnaval é tão pouco badalado, que nem dá pra saber quem desfila ou não.

    Pronto, fico então esperando o próximo post teu.

    Beijinho, lindo menino (foi só pra rimar -rs) e tenha um resto de boa semana.

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    1. Não, Ivete não foi lá. Os travestidos estavam se divertindo ao som da música dela. E a minha clausura foi só carnavalesca, não tenho vocação para o religiosismo.

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    2. Ah, agora entendi. Ivete não esteve cá, mas sim a música dela.
      És folião fora do Carnaval. Tá bom! Compreendi!

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  4. A propósito da crise: pois, tu dizes que ela só afeta as pessoas sérias e tens razão, porque as outras nem têm cérebro pra pensar e estão, o ano todo, na folia.

    QUE VENHAM TEMPOS NOVOS!

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    1. "QUE VENHAM TEMPOS NOVOS" mesmo! O Brasil precisa acordar para a realidade, ou o povo usa o cérebro para pensar, ou seguimos de mão em mão de falsos "salvadores da pátria". Triste alienação...

      Um abraço.

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  5. Oi Antonio!
    O conto ilustra muito bem o cotidiano. Tiramos o foco do que interessa.
    Depois pagamos a conta!
    Abraço carinhoso e ótima semana!

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  6. Olá, Apon, como vai?
    Muito interessante seu texto... é verdade, muitas vezes na vida nos desesperamos com um problema a ponto de achar que não tem solução e o deixamos de lado, fugimos, nos desesperamos, sofremos...
    A caminhada em busca da sabedoria nos ensina a manter o equilíbrio e o discernimento mesmo na adversidade e lembrar que sempre, quanto antes resolvemos um problema, melhor.
    Abraços!

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    1. Precisamos aprender a focar na realidade, no nosso possível e conservar o equilíbrio para poder discernir e não desatinar desastrosamente.

      Um abraço.

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