Quero encontrar o tempo perdido;
os abraços sonegados,
as palavras que calei,
as memórias não guardadas,
colher as flores que não plantei.
Quero as oportunidades desperdiçadas,
as possibilidades que ao acaso entreguei;
a sorte malbaratada,
os azares que cultivei.
Quero as orações que silenciei,
a esperança que emudeci,
o Deus que desacreditei,
a fé por mim desdenhada,
os sonhos que não sonhei.
Quero me encontrar nos meus desencontros,
na poesia que não escrevi,
nos passos que não dei…
Antecipar os bônus imerecidos,
retardar os ônus que acumulei,
trilhar os caminhos não construídos,
as pontes que sabotei.
Querer um tolo querer,
ignorante de que o tempo é rio que segue sem detença,
que “águas passadas não movem moinho”.
Só o hoje é presente,
o passado foi a dádiva desencontrada,
o futuro, uma especulação.
Não dá para reencontrar o tempo perdido,
o eu que no tempo se perdeu,
não é permitido retroceder, adiantar os ponteiros,
só o agora é hora,
para sonhar e fazer acontecer,
sem mais “desachar” o tempo,
fazer florir meu real querer.