Do navio negreiro à barca furada negacionista


Navio Negreiro, pintura de Rugendas. #PraCegoVer

No Brasil, insepultos fantasmas assombram, ensombrando mentes obnubiladas e obnubilantes, que intentam exumar trevosas ideologias; negando a realidade e sonegando a verdade. Num consórcio espúrio com o vírus pandêmico, a estupidez relativiza milhares de mortes, minimiza a importância das máscaras e do mais que necessário distanciamento social, delirando em “desremédios” que afrontam a ciência e ridicularizam a inteligência. Falidos, podem se reerguer; finados, descem irremediavelmente ao túmulo. Assim é, queiram ou não os que não ajudam e ainda fazem de tudo para atrapalhar.

Como na clássica poesia O Navio Negreiro, de Castro Alves:

“… No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás! ...”


Ante o genocídio daqueles tempos e o morticínio de agora; perante o descaso, o desapreço, o desprezo por tantas vidas. Muitas vezes, demonstrados por “cristãos” sem Cristo. Resta-nos acordar o brado do “poeta dos escravos”:

“… Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são?
Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa... Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...”


Mas na vida, tudo e todos passam. Qual os navios negreiros e toda a caterva escravagista que sucumbiu ante a marcha da evolução, os que hoje se acumpliciam desgraçando a sorte de um povo, serão atropelados pela força do progresso e do bem, indo a pique com sua nau de tantas negações e negatividades; como os nefandos de outrora, encontrarão seu devido lugar no lixo da história.

Por enquanto, te convido a assistir e refletir nesse vídeo com minha interpretação de fragmentos de O Navio Negreiro, de Antônio Frederico de Castro Alves:


6 Comentários

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  1. Mais uma Brilhante publicação. Parabéns pela excelente poesia! :)
    -
    Um brinde que já foi meu ...
    -
    Um excelente dia- Beijos

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  2. Querido amigo Antonio, escolhestes bem o poema para nos dar a dimensão do que se passa nesse País riquíssimo, mas tão mal governado!
    Indignação é pouco!
    Amei ler e refletir!
    Abraços apertados e continue se cuidando, assim como eu e minha família, pois com esse desgoverno nem sei mais ainda o que veremos?!

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    Respostas
    1. Espero que com urgente brevidade, possamos ver se dissiparem as trevas da incompetência, do descaso, da omissão, do achincalhe e de tantas aberrações. Que o Brasil se erga do lodo negacionista em que atolou, transformado numa verdadeira barca de Caronte, que já ceifou centenas de milhares de vidas. Mas Deus, o de verdade, é maior e nos há de salvar.

      Um abraço. Tudo de bom.
      APON NA ARTE DA VIDA 💗 Textos para sentir e pensar & Nossos Vídeos no Youtube.

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  3. Olá, Tonico!

    A comparação entre a época do tráfego de escravos e o teu poema está tocante, muito inteligente e bem escrita, como já é costume.

    O poema de Castro Alves é forte, muito forte, mas corresponde, exatamente à verdade que dói e que deixou suas marcas.
    "Vibrai rijo o chicote, marinheiros!" é um verso que nos incomoda e nos deixa a pensar. Escravo é gente, não esqueçamos, mas naquele tempo era considerado coisa.

    Atualmente, a situação não é tão esclavagista, mas teu poema pede ao mar, em sentido figurado, que acabe com a tormenta que o Brasil vive nos dias de hoje. Um dia, chegará o fim dessas atrocidades, porque o Universo ama seus filhos.

    Gostei muito de ambos os poemas e daquilo que eles retratam. Parabéns a ambos os poetas.

    Beijos, abraço e uma Páscoa com saúde.

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    Respostas
    1. Foram-se os navios negreiros, mas as tantas feridas e os ais ainda ecoam. E hoje no Brasil, arrumaram essa mal ajambrada barca furada, na verdade uma desgovernada barca de Caronte. Mas as forças do bem nos hão de livrar da estupidez, da perversidade e da mais tacanha ignorância; de suas trevas e seus trevosos senhores.

      Menina, você está ombreando minha escrita com a de Castro Alves? Quem sabe, daqui a algumas encarnações, eu não consiga escrever como ele?

      Um abraço. Tudo de bom.
      APON NA ARTE DA VIDA 💗 Textos para sentir e pensar & Nossos Vídeos no Youtube.

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