Durmo sob as estrelas, sobre o chão desnudo, me cubro com o jornal que não sei ler. Vou morando por aí; cumprindo a sina, tatuando a retina de quem não me quer ver.
![Homem idoso em situação de rua. #PraCegoVer #ParaTodosVerem](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGwQZSdTGAoDWJIUQ7jOxvQXOya-FyMjSEFrenB-JRvDKuud3OJWRSizfduduuEN6waEos9W6imZYRCTIJeZKoHs-WwoPlfwb7Ok9mXHxg3QboX9aCzhvqX3LE6YxzGpNWE6AN48HP14bs1X7U11VdWeGrat7VA4SChbZu6Gzq15QMdGzXaMPqkb74UW0/s400-rw/Pobreza%20homem%20em%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20rua%20black-4706960_1280.jpg)
Moro onde o tempo tem pressa,
onde a sorte reversa vive versando o azar;
aonde a bala perdida sempre encontra alguém.
Moro no desendereço da cidadania,
lá onde reside a agonia.
Moro onde ninguém é de ninguém,
na esquina do desprezo com o desdém;
na quebrada,
na favela.
Figurante, coadjuvante da novela que o destino escreveu.
O protagonista?
Não sou eu!
Invisível personagem entre tretas e tramas do viver.
Moro onde nada é tudo que se tem,
onde a fé é o único remédio,
a esperança é o curativo que resta;
promessa, é só o que vem.
Moro onde o dia deserta,
onde a noite incerta,
faz-se atalho para o além;
onde a própria sombra assombra,
entre o tráfico e a milícia,
segue-se correndo da polícia,
brincando de sobreviver.
Moro entre o esgoto e o lixo,
no jogo micho do vil poder.
Moro ali em Deus me acuda,
rogando ajuda,
pedindo pra não morrer.
Durmo sob o teto de estrelas,
sobre o chão desnudo,
me cubro com o jornal imundo que não aprendi a ler.
Vou morando por aí;
cumprindo a sina,
carpindo a rotina,
tatuando a retina de quem não me quer ver.